quinta-feira, 14 de maio de 2020

A Colônia da Deusa


Texto escrito por mim em janeiro de 2016, numa homenagem à Marataízes, praia de tantos encantos e tantos amores. Para relembrar da nossa pérola nesses dias de pandemia. Aproveito também para prestar homenagem a minha saudosa mãe, Sonia Coelho.

Neste último fim de semana, a água do mar em Marataízes estava divina. Quem esteve por lá pôde conferir todo o esplendor e magia de uma cidade viva. Digo isso porque Marataízes tem algumas peculiaridades. Por exemplo, lá o mar nunca suja, a água é que, por pura travessura, vez por outra resolve mudar de cor. E o faz ao sabor do vento. Se sopra nordeste, o mar se adorna de dourado (marrom é o cacete!); se venta sul, as águas se travestem de verde para receber a chuva.
Muitos não acreditam, mas Marataízes tem alma. Essa característica do balneário influencia turistas, nativos e mesmo as autoridades do município. Agora mesmo, parte da Praia da Colônia foi desobstruída. E ainda vão demolir as demais casas daquela orla depois do verão. Há quem diga que é ordem judicial, que foi a Marinha, que foi a prefeitura. Tudo bobagem. Foi Netuno quem provocou isso, em conluio com Ísis, deusa egípcia do amor e alma gêmea de Marataízes.
Há anos, Netuno vinha mandando sinais de que não está nem um pouco satisfeito com a perda de território nas praias da amada, especialmente a Colônia. Ensaiou até derrubar as casas com a força de seu poderoso exército, que faz mexer as águas, subir as ondas e invadir a praia. Aliás, o deus romano do mar vem mandando esse recado há muito tempo, e não só na Colônia. Na Lagoa Funda e Nova Marataízes sua fúria já pôde ser percebida.
Contudo, Marataízes é sentimental. Prevendo que a retomada da Colônia seria um golpe duro, ofereceu duas pérolas aos seus vassalos: a Catedral do Samba e o Geredy´s. A primeira trouxe música de qualidade, dos anos 1930 aos 1970, nas vozes arrastadas de uma velha guarda que não dorme no ponto nem sobe no pinto. Naquelas nucas brancas e carecas, só de implicância, Netuno assopra um nordestão bem forte, que é pra contrapor ao fogo da cachaça que inebria na cabeça e excita nas carnes.
Bem pertinho dali, no Geredy´s Bar, uma profusão de gerações interage freneticamente ao som do rock and roll dos anos 70, 80 e 90 - junto e misturado às novas tendências. No Gera, pode-se ouvir o hino do balneário cantado pelo próprio autor, o Baíco. Em seu palco, com a permissão dos deuses, também passa toda uma nova geração de músicos que faz perpetuar essa vocação de Marataízes em produzir talentos. Só para não esquecer, na Catedral também se pode ouvir o hino de Cachoeiro, cantado pelo mestre Raul Sampaio.
Essas duas pérolas vão ficar pra sempre na nossa memória. Assim como ficaram o Chalé 70, Vip Vip, 630, Mar Azul, Xodó, Iate Clube, ToaToa, Veleiros e tantos outros points que receberam a dádiva de marcar pedaços de tempo. Mesmo aqueles que não a conheceram, no futuro, quando passarem pela Praia da Colônia, sentirão aquela sensação dèjá vu. É como se a alma de Marataízes estivesse ali, perpetuando as alegrias, sorrisos, tristezas e todas as demais sensações que nos fazem aproximar dos deuses. Salve Marataízes!

segunda-feira, 11 de maio de 2020

O Tabuleiro Político de Kennedy



Com quatro pré-candidaturas postas, a disputa eleitoral pela Prefeitura de Presidente Kennedy este ano deve quebrar um tabu que já virou tradição no município: a reeleição do atual mandatário. Nos últimos 20 anos, foi assim com Aluízio Correa (PL), Reginaldo (DEM) e Amanda Quinta, considerando que Amanda foi alçada ao cargo pelos votos de Reginaldo, que teve a candidatura abortada pela justiça às vésperas do pleito. Tanto que, nas urnas, era a foto dele que constava para o eleitor.
Dorley Fontão da Cruz (PSD), vice de Amanda, como ainda não foi diplomado, disputará pela primeira vez o cargo. Se vitorioso, terá a chance de se candidatar novamente em 2026. O mesmo acontece com Tininho, em Marataízes, vice do Doutor Jander, que ficou mais de dois anos no cargo por determinação judicial, sem ser diplomado prefeito, e deve tentar a reeleição este ano.
Outro fato que chama a atenção é que, em conversa com os candidatos ou pessoas próximas deles, percebi que não há um clima beligerante, marca registrada da política kennedense. De certa forma, estão todos com muito cuidado, pisando em ovos, acreditando que alguém ainda pode desistir. As eleições municipais em Kennedy sempre foram polarizadas em duas candidaturas ferrenhamente opostas. Com quatro no páreo, penso que pode ainda haver um esbarrão ou encontrão entre um ou outro candidato.
A seu favor, Dorley tem o fato de ter “colocado o trem nos trilhos” após o afastamento de Amanda. Muitos não acreditavam que se sustentaria no cargo, acho que nem ele mesmo, tamanha a turbulência na cidade. Dessa forma, conseguiu evitar uma intervenção estadual. Se perguntarem a qualquer kennedense, a resposta será de que a intervenção foi muito ruim para o município. Por outro lado, Dorley está dando continuidade a importantes obras de infraestrutura iniciadas pela prefeita afastada, como a nova rodovia do Caju, o novo acesso e a escola de Marobá, calçamentos, etc. Pretende, ainda nessa gestão, licitar o saneamento básico do município. Com o cabresto da prefeitura na mão, seu cavalo entra forte na raia eleitoral.
No caso de Aluízio Correa, a expectativa é se terá o vereador Daniel Gomes (PTS) como vice. Com 2.874 votos para deputado no último pleito, Daniel pode, digamos assim, turbinar a candidatura do ex-prefeito.  O portfólio de Aluízio é extenso, deixou obras por toda cidade e interior nos oito anos que esteve à frente do Executivo Municipal, sem se envolver em imbróglios judiciais.  Deixou a prefeitura com a popularidade em alta, elegendo seu sucessor. O ex-prefeito tem ainda na cartola os apoios do PTS e do PEN, que, juntamente com o PL, garantem 42 candidatos a vereador trabalhando seu nome nas ruas e recônditos do município. Acredita que o cavalo está arriado e já calça as esporas.
Correndo por fora, mas com bastante intensidade, vem Rubens Moreira (PDT). Ao colunista, ele afirmou: “em Kennedy temos muita escolaridade e pouca empregabilidade, precisamos mudar isso”. Ele terá como bandeira, além da renovação política, a atração de empresas para o município. O presidente do Sicoob é novato em disputa eleitoral, mas de bobo não tem nada. Já presidiu a Cooperativa Selita por quatro vezes e ajudou a criar o Fundesul . Tem ainda na retaguarda dois grandes trunfos: o bom trânsito junto ao empresariado (é conselheiro do Movimento Empresarial do Sul do Estado - Meses) e o espólio político de Amanda Quinta, com quem mantém bom relacionamento. Se as lágrimas que rolaram no rosto dos kennedenses,  quando afastaram a prefeita, se multiplicarem em votos, Rubens ganha ainda mais estatura. Está colocando a ferradura no cavalo.
 Deixei Reginaldo por último por dois motivos. Primeiro, porque paira uma dúvida sobre sua situação junto à Justiça Eleitoral; e segundo, porque não consegui ouvi-lo. Suponho que o que move Reginaldo nesse momento é a vontade de dar a volta por cima, de recuperar um mandato quer lhe foi tirado de forma abrupta, em processos que não tiveram fim. O ex-prefeito se tornou uma espécie de “Sassá Mutema” da política kennedense, um Robin Wood. Mesmo longe do poder há bastante tempo, mantém a admiração e o carinho de grande parte da população. Com ele na disputa, tudo pode acontecer. Mantém o cavalo na baia, muito bem tratado. Volto ao assunto.

domingo, 3 de maio de 2020

O tempo e o vento, uma ópera bufa

Compromisso de escrever é assim, tem que cumprir, senão o editor puxa a orelha. Esperto é o Higner Mansur, que agora é verde igual às folhas das mangueiras da Ilha da Luz. Quando se aperta, mete um escrito antigo, uma carta de outrora, um reclame incessante, dá uma repaginada, e resolve o problema. Procurei em meus alfarrábios e só vi os rábios, nada de alfa.
 Tinha pautas boas em vista. Presidente Kennedy, Marataízes, Piúma não, que é coisa da Luciana, o máximo. Ia escrever sobre o Garrafão, mas também não posso. É latifúndio que tem dono. Pensei em falar mal do Evair de Melo, mas o deputado tá bem na fita em Brasília, tá em casa, no Partido Progressista (PP), junto aos ruralistas. Seja lá que fita seja essa.
Civid 19 e essa aporrinhação de esquerda contra direita é para politiputas (neologismo meu). Falar mal do Bozo é cair no lugar comum. Do Lula, nem se fala mais. Ciro é um escroque nordestino, com todo respeito à rapadura. Já perdi meu tempo em palestra dele e o entrevistei. É samba de uma nota só e oportunista de carteirinha. Não é a toa que no segundo turno da última eleição ele botou a viola no saco de foi pra Pasárgada, acreditando ser o herdeiro do rei persa*.
Do Vítor Coelho, o prefeito boa pinta, não falo, senão apanho em casa. E nesse isolamento residencial a última coisa que quero é brigar com a patroa. Não teria pra onde correr. A não ser que saísse por aí de máscara feito Durango Kid. Tá todo mundo igual ao Durango Kid na rua. Até os ladrões. Junto e misturado. Se alguém anunciar um assalto, tenho pena dos seguranças. Vão ficar igual à biruta de aeroporto, mirando em todo mundo.
Falar mal do Big House é perigoso, ele pode estar com a razão e ainda cortar o bônus de julho dos professores. O de dezembro já cortou. Imagino que nessa altura do campeonato a tesoura esteja trepidando em sua mão direita. Minha esperança é de que a esquerda seja mais destra. Deu pra entender? Esquerda mais destra... Sei não. Deixa o Casão em paz, curtindo sua cruzada contra o corona, os comerciantes, o presidente e o que mais vier.
Pra fechar, que o texto vai ser curto mesmo, vou refletir sobre uma entrevista que vi na CNN Brasil. Verdade, já temos CNN, a maior do mundo. Trouxeram pra cá só pra fazer raiva no Trump. Algum americano tem que falar mal dele nesse país. Mas um sujeito, presidente da “Prosperity American”, ONG de direita (lá tudo é direita, porque americano nasce só com um braço), me deixou intrigado.
Ele projetou os EUA pós-pandemia. Disse que após o 1º de Setembro, “Dia do Trabalho” por lá, quando as coisas estiverem mais calmas, pertinho das eleições, os americanos vão aprender os mistérios do fogo pra te incendiar. Essa música... Bem, prognosticou que só então a ficha vai cair. As pessoas vão perceber o que foi ou não foi feito, os resultados, o fruto do medo vai aparecer. Então, um vento vai bater dentro deles (os americanos).
Por analogia, acredito que vai acontecer o mesmo por aqui. Depois de tudo, vamos ver quem tinha razão. Bozo terá dois anos pra aprender os mistérios do fogo. Os prefeitos, esses não. Estão no fio da navalha. Podem pagar pelo excesso de zelo ou pela falta dele. Torço para que esteja vivo para ver no que vai dar. Por precaução, mesmo durango, no osso, uso a máscara. Na melhor das hipóteses, os cobradores não vão me reconhecer na rua. Tem um vento batendo dentro de mim. Vou ao banheiro.



*Ciro II: Rei da Pérsia Arquemênida. Era costume persa manter várias capitais em simultâneo, em função da vastidão do império: Persépolis, Ecbátana, Susa ou Sardes. PQP, tá doido?







A Borboleta e a Flor



 Abro espaço hoje no blog para uma ex-aluna, que me enviou essa singela crônica, quase fábula.

por Cíntia Souza

Certo dia, percorrendo pelo jardim de minha casa, em uma arbusto, observei uma borboleta parada defronte a uma bela flor. Essa, por sinal, possuía um aroma especial e inigualável. Pude observar que, enquanto a borboleta voava sob a flor, a mesma soltava uma espécie de pó que preenchia o ar de perfume.
Persisti em observar aquele elã sublime e me dei conta de quão lindo seria se aproveitássemos a beleza das coisas, das pessoas, e desistíssemos de procurar razões que não exprimam a verdade daquilo que realmente queremos.
Em minha reflexão repentina, pude sentir o quanto aquela borboleta admirava a bela flor, o tanto que era apaixonada, e como se contentou em apenas senti-la, de forma que ficavam mais próximas a cada momento pelo embalo das pétalas à brisa e pelo perfume no ar.
Contudo, também pude observar que a bela flor também se beneficiara das cores magníficas da borboleta, do misto de amor que ela emanava enquanto a sobrevoava.
A borboleta, por sua vez, agradecida pelo carinho da flor, ofertou-lhe aquilo que viria, em breve, fazê-la tornar-se sua amiga inseparável: um belo ovinho, depositado em sua folha.
Peguei-me a pensar que, mesmo que estejamos encantados sobre algum assunto, objeto ou pessoa, nada mais é do que para garantir uma estabilidade ou ganho pessoal. Ainda bem que, ao final, ambos saíram satisfeitos.