Texto escrito por mim em janeiro de 2016, numa homenagem à Marataízes, praia de tantos encantos e tantos amores. Para relembrar da nossa pérola nesses dias de pandemia. Aproveito também para prestar homenagem a minha saudosa mãe, Sonia Coelho.
Neste último fim de semana, a água do mar em Marataízes
estava divina. Quem esteve por lá pôde conferir todo o esplendor e magia de uma
cidade viva. Digo isso porque Marataízes tem algumas peculiaridades. Por
exemplo, lá o mar nunca suja, a água é que, por pura travessura, vez por outra
resolve mudar de cor. E o faz ao sabor do vento. Se sopra nordeste, o mar se adorna
de dourado (marrom é o cacete!); se venta sul, as águas se travestem de verde
para receber a chuva.
Muitos não acreditam, mas Marataízes tem alma. Essa
característica do balneário influencia turistas, nativos e mesmo as autoridades
do município. Agora mesmo, parte da Praia da Colônia foi desobstruída. E ainda vão
demolir as demais casas daquela orla depois do verão. Há quem diga que é ordem
judicial, que foi a Marinha, que foi a prefeitura. Tudo bobagem. Foi Netuno quem
provocou isso, em conluio com Ísis, deusa egípcia do amor e alma gêmea de Marataízes.
Há anos, Netuno vinha mandando sinais de que não está nem um
pouco satisfeito com a perda de território nas praias da amada, especialmente a
Colônia. Ensaiou até derrubar as casas com a força de seu poderoso exército,
que faz mexer as águas, subir as ondas e invadir a praia. Aliás, o deus romano do
mar vem mandando esse recado há muito tempo, e não só na Colônia. Na Lagoa
Funda e Nova Marataízes sua fúria já pôde ser percebida.
Contudo, Marataízes é sentimental. Prevendo que a retomada da
Colônia seria um golpe duro, ofereceu duas pérolas aos seus vassalos: a Catedral
do Samba e o Geredy´s. A primeira trouxe música de qualidade, dos anos 1930 aos
1970, nas vozes arrastadas de uma velha guarda que não dorme no ponto nem sobe
no pinto. Naquelas nucas brancas e carecas, só de implicância, Netuno assopra
um nordestão bem forte, que é pra contrapor ao fogo da cachaça que inebria na
cabeça e excita nas carnes.
Bem pertinho dali, no Geredy´s Bar, uma profusão de gerações
interage freneticamente ao som do rock
and roll dos anos 70, 80 e 90 - junto e misturado às novas tendências. No
Gera, pode-se ouvir o hino do balneário cantado pelo próprio autor, o Baíco. Em
seu palco, com a permissão dos deuses, também passa toda uma nova geração de
músicos que faz perpetuar essa vocação de Marataízes em produzir talentos. Só para
não esquecer, na Catedral também se pode ouvir o hino de Cachoeiro, cantado
pelo mestre Raul Sampaio.
Essas duas pérolas vão ficar pra sempre na nossa memória. Assim
como ficaram o Chalé 70, Vip Vip, 630, Mar Azul, Xodó, Iate Clube, ToaToa,
Veleiros e tantos outros points que receberam
a dádiva de marcar pedaços de tempo. Mesmo aqueles que não a conheceram, no
futuro, quando passarem pela Praia da Colônia, sentirão aquela sensação dèjá vu. É como se a alma de Marataízes
estivesse ali, perpetuando as alegrias, sorrisos, tristezas e todas as demais
sensações que nos fazem aproximar dos deuses. Salve Marataízes!
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