Nas duas últimas décadas, a correlação entre o
aumento do tráfego de informações, via internet, e a expectativa da população
por ganho de cidadania não anda nada bem. Penso que, na medida em que a
sociedade passou a dialogar mais de forma endógena, via redes sociais, também
passou a ter mais premência de resolução de seus direitos básicos, como o
atendimento à saúde, à educação de qualidade, à celeridade da Justiça, à segurança
e ao saneamento básico, entre outros.
A resposta do Estado pela via democrática a esses
direitos não ocorre na velocidade esperada, fazendo com que a população culpe a
classe política, especialmente os poderes Legislativo e Judiciário, que não têm
acompanhado, apesar de todo o desenvolvimento tecnológico de nosso tempo, o
atendimento às demandas civis, políticas e sociais da população, especialmente dos
pobres. A título de exemplo, cito a morosidade que faz com que processos
judiciais de interesse popular, ou que têm como requerentes as pessoas pobres,
demorem décadas para serem solucionados, enquanto as ações que beneficiam
pessoas ricas ou grandes corporações são julgadas de forma célere.
Por sua vez, vemos
projetos de interesse popular, como o PL que moderniza a oferta de serviço de
saneamento no país, tramitando há anos no Congresso, sem solução, deixando
milhares de pessoas reféns do esgoto a céu aberto e da falta de água tratada. Entrementes,
o principal direito político do cidadão, o voto, está encardido por
uma prometida, mas nunca concretizada, reforma política, que há mais de uma
década dormita no Congresso. Seu único avanço, a Cláusula de Barreira, que acabaria com a farra da criação de legendas partidárias - votada
aprovada pelos congressistas - foi barrada pelo Judiciário, numa ação que os
próprios ministros do STF hoje julgam equivocada.
Nossos direitos civis estão sendo aviltados quando a
Lei funciona bem para os ricos e ignora os pobres; quando presos que já
cumpriram suas penas continuam amargando o cárcere; quando pessoas que
necessitam urgentemente de serem operadas num hospital têm que entrar numa fila de espera
que pode custar suas vidas. Cidadãos aguardam uma eternidade no telefone
para serem atendidos condignamente pela operadora de telefonia, que, por puro
escárnio, não cumpre o que está determinado na lei, que é ter como
primeira opção falar com a atendente. Não há regulação nesse sistema
capitalista brasileiro. As agências reguladoras estão vendidas às corporações e operando ao sabor da classe política.
Enquanto isso, a elite está discutindo o paradeiro
da mulher do Queiroz. Digo elite porque o pobre tá cagando e andando para isso.
Ele quer é que a operadora de celular pare de aumentar suas contas sem que
sejam consultados, que suas demandas judiciais sejam atendidas (sem virar
precatório), que seu filho tenha um bom ensino, que os preços baixem, e que as reformas que possam melhorar suas vidas sejam votadas, com ou sem
Bolssonaro.
Essa lentidão de resolver as coisas, fato comum no
processo democrático, confronta-se com
um mundo que evolui de forma acelerada, que consegue criar novas vacinas em
apenas um ano, e que recebe na palma da mão um cabedal incrível de informações
por minuto. Esta situação estabeleceu um paradigma que precisa ser estudado e compreendido. É necessário entender a real função dos Poderes
Democráticos constituídos, na modernidade, para podermos compreender melhor o
que essa nova geração espera deles. Daí a aversão ao Legislativo a ao
Judiciário, constatadas pelas manifestações de rua, sendo transfiguradas pelas
agressões de alguns imbecis à própria democracia.
Torna-se importante a vigilância sobre a tentativa dos juízes e políticos de censurar o único espaço que nos
resta para desabafar, as redes sociais. Existe fake news sim, e vamos ter que
conviver com elas. Chamar ministro do supremo de vagabundo é um direito meu, assim
como chamar o presidente de energúmeno e nazista. Por que podemos dizer
“Fora Bolssonaro”, “Fora Lula”, “Fora Dilma”, e não podemos gritar “Fora
Ministros do Supremo”, seus vagabundos. Ir contra a democracia seria se eu fizesse
algo de fato contra a democracia, concreto, que não seja apenas retórica. Então, vamos
dar um viva aos vagabundos do Brasil. Vivaaaa! Eu heim!