terça-feira, 15 de setembro de 2020

O Babaca e o Negão

Às vezes, estranhos sentimentos nos abatem. Lembro-me de quando fazia faculdade, anos 80, no Rio de Janeiro, e um negão, flanelinha, de sorriso largo, sempre guardava uma vaga pra mim. Pagava por mês, ou nem pagava, o que para nós deixou de fazer diferença. Com o crescimento da amizade, a gorjeta passou a ser apenas detalhe. A verdade é que, num local onde o furto de automóveis era comum, na minha moto ninguém mexia.

Numa noite de março, ao voltar das férias em Marataízes, depois de curtir o carnaval do Iate Clube e muitas baladas etílicas nos Xodó e ToaToa, percebi que o negão não estava lá. Ninguém sabia dele. Tomava o trem vindo do subúrbio, para trabalhar, e saltava na Central do Brasil. Era comum o noticiário da TV exibir imagens de jovens suburbanos sobre os vagões ou pendurados perigosamente nas suas laterais.

Até que um dia disseram-me que havia sofrido um acidente grave. Quase morreu. Não dei importância, afinal, havia sobrevivido. Passado um mês, ou quase isso, o negão reapareceu. Percebi, pelo nó na manga da camisa, que lhe faltava um braço. Não só o braço, seu olhar perdeu o brilho. No semblante, a áurea serena que o distinguia esvaiu-se. O sorriso largo ficou estreito. Quando o vi, pensei em não cumprimentá-lo, despistar, sei lá... Fiquei sem ação.

Queria que não tivesse de sentir pena dele, que não precisasse encará-lo frente a frente em sua miséria, que não me reconhecesse. Definitivamente, aquele negão não era o mesmo que me esperava todos os dias, com quem dividia a guimba do cigarro e o copo de cerveja depois das aulas, nos bares da rua Farani, em Botafogo, junto à juventude classe média que estudava na Santa Úrsula e na Facha. O trem havia nos roubado.

Percebi, então, que ele agia da mesma forma. Evitava-me, não mais me esperava, até fingia não me ver. Não sei se faltou a palavra que não consegui dizer, o aperto de mão, naquela que restou. Agia como um estranho, machucado. Notei um vazio naqueles olhos que miravam sempre os pés descalços, de solas grossas rachadas de asfalto, dedos achatados e unhas tortas. Forças distintas nos afastaram, o trem terminou o maldito serviço.

Talvez minha piedade contida e a humildade recolhida dele tenham sido mais fortes que nossa amizade. Quiçá tenha sido uma forma de preconceito profundo, de parte a parte, que tenha freado uma aproximação natural. Debati-me várias noites: por que nos afastamos quando mais precisávamos um do outro para entender a vida? Só ele poderia aliviar o sentimento amargo a me apertar o peito toda vez que o via.

Poderia dizer-me que estava tudo bem, que ia superar e tinha um futuro. Não o futuro que via em mim, já quase formado, e que não mais fazia parte de seu mundo. O negão me devia uma resposta, ou uma pergunta, sei lá! Seu silêncio me torturou. Que futuro poderia ter? Sem o braço. Antes, tinha esperança. Nunca mais nos vimos, mas sei que um pouco dele ainda anda comigo, e me assombra. Tomara que seja recíproco, ou fui apenas mais um babaca classe média que fingiu ser seu amigo e lhe virou as costas quando mais precisou.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

O efeito Baíco em Marataízes

O oceano político está agitado no litoral. Como sempre, Netuno anda fazendo das suas para proteger Ísis, a deusa egípcia do amor. Não é tsunami, tampouco uma tempestade, apenas uma pessoa incomum, com a alcunha de Baíco, que resolveu mexer com as águas do Atlântico que abraçam o píer de Marataízes e rompem no quebra-mar da Barra. Seu nome: Zilmar Geaquinto Filho.

Este é um artigo político, mas bem poderia ser uma poesia, em homenagem a Baíco, autor do hino da cidade e de tantas outras canções que fazem a Pérola Capixaba ser cantada em todo canto do Brasil. Maratimba da gema, de raiz profunda, Baíco filiou-se ao Partido Verde, que se reinventa em Marataízes para ser protagonista no processo político local. E chegou fazendo onda.

A simples possibilidade de vir candidato a prefeito - que ainda descarta - fez os guruçás espicharem os olhos e emergirem da areia. Alguns caciques políticos se apressaram em reverenciá-lo. E não é pra menos. Baíco é engenheiro civil, mestre em Gestão Ambiental, e possui no bornal mais de 700 projetos de obras realizadas em 21 administrações. Também é batuta, não bota a mão na cumbuca, mas dá a mão a pobre e conversa com rico. Isso assusta.

Com esse Celacanto Dourado na rede, o PV de Marataízes quer ganhar energia para ter influência no processo eleitoral. No momento, o partido vem conversando muito. Quem o procurou primeiro foi o grupo da candidata Norma Ayub (Democratas). Não será surpresa se dessa união sair uma chapa para a majoritária, para o bem da cidade e de suas praias encantadas.

Baíco traz a cura para Norma, ou melhor, para a chaga que querem imputá-la, de ser forasteira. Mais maratimba que ele só os pescadores do Pontal e os pargos do Cações. Não que Norma esteja mal, ao contrário, seu barco está bem ancorado. Já tem até gente dizendo que só assim, com a vitória dela, Ferração vai sossegar o facho, abrindo caminho no calçadão da Praia Principal para que outro pretendente a deputado da cidade receba o seu apoio em 2022.

Eu duvido muito. Mas também duvidava que Baíco iria entrar para a política. Que Netuno saiba o que está fazendo.  


sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Esquenta o caldeirão em Vitória

O cavalo está arreado, resta saber quem vai conduzi-lo à PMV

Nos meses que antecedem as eleições, é comum aos partidos encomendar pesquisas para avaliar sua densidade eleitoral. As sondagens são feitas para o consumo interno, mas fornecem os elementos que darão o norte das candidaturas e futuras alianças. Ter acesso a essas avaliações é tarefa difícil, pois, geralmente, são guardadas a sete chaves. Como para jornalista o pingo é letra, a gente pergunta de cá, cutuca de lá e vai formando juízo através das fontes, que ainda são sagradas. Não deixem o STF ler isso, senão profana.

Pois bem, de tudo que vi e ouvi, deu pra perceber que dois pré-candidatos largam na frente em Vitória: Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB) e João Coser (PT). Sérgio Majeski, caso não tivesse perdido as prévias dos socialistas para Sérgio Sá, poderia estar nesse páreo. Os deputados Fabrício Gandini (Cidadania), Lorenzo Pazolini (Republicanos), assim como o Capitão Assunção (Patriota), estão, digamos, no meio do caminho.

Gandini tem o apoio do atual prefeito da capital, Luciano Resende, aliado do governador Renato Casagrande. Articula para brigar na ponta. Já o Capitão Assunção conta com os votos bolsonaristas da extrema direita. Pazolini tem a simpatia da Assembleia, via Érik Musso, e do deputado federal Amaro Neto, ambos de seu partido. Espera pela unção do ex-governador Paulo Hartung, que está espremido entre esse e o seu ex-comandante da Polícia Militar, Milton Cerqueira (Novo), desidratado, assim como outros pretendentes.

Analisando com serenidade o tabuleiro da baiana, minhas fichas hoje estariam com Luiz Paulo. Apesar de não ser o candidato oficial do governador Renato Casagrande, tem bom trânsito no Palácio Anchieta. O tucano, olhando lá na frente, tem refutado apoio explícito de opositores do governador. Sabe que, num eventual segundo turno, precisará do apoio dele para formar uma frente ampla contra Coser ou um dos candidatos de PH.

Com dois mandatos bem avaliados na capital, o tucano articula pelo centro. Recentemente, assinou a Carta Cívica de Vitória, junto com representantes da Rede e do PP. A Carta hasteia a bandeira da sustentabilidade, da economia verde e da descentralização administrativa, com a volta das subprefeituras (leia-se prefeitinhos), que deram certo em suas gestões.

Por sua vez, João Coser deve articular a esquerda de raiz para encorpar sua candidatura. Seu maior obstáculo é a rejeição que o PT encontra junto à população, que guarda na retina os escândalos de corrupção do petrolão e as condenações da Lava-Jato. De qualquer forma, largou bem. Enquanto isso, o relógio vai fazendo tic-tac-tic-tac...

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Marataízes: façam suas apostas!

 

Eleição em Marataízes é como um ovo Fabergé, aquele russo, que revela surpresas valiosíssimas.  Historicamente, já vimos candidato largar na frente e chegar na rabeira, assim como candidato cantar vitória de véspera, degustando uma suculenta picanha, ver seu sonho sucumbir no dia do juízo final. Enfim, apostar em candidato por lá é coisa de doido, pra quem gosta de fortes emoções, porque nem sempre tem café no bule do favorito.

A julgar pelo último pleito, Toninho Bittencourt (Podemos) estaria eleito. Somando os 7.080 votos que obteve em 2016 (33% dos votos válidos) com os 6.250 do Marco Vivácqua (PTB) seria macuco no embornal. Juntos, em tese, estariam com quase 65% da preferência. Mas eis que surge uma candidata, com muita linha na agulha, deputada federal e prefeita por duas vezes, para ameaçar essa aliança.

Norma Ayub (DEM) é o elemento surpresa em 2020, a caixinha de música com a bailarina que pode destronar Tininho (PDT) e fazer ruir a aliança Toninho-Marco, já baqueada com o expurgo do vereador Loro (PP) da chapa majoritária. Os adversários de Norma sabem disso e esboçam uma campanha de desconstrução da demista. Acusam-na de forasteira, de não ter luz própria, de omissão, enfim, só falta falar que ser mulher inteligente e bonita é defeito. Epa!! Fico imaginando a quantidade de preconceito que tem sofrido para levar adiante a candidatura, que segue firme.

O contraponto de Norma à aliança de Toninho veio com a aproximação ao ex-prefeito Doutor Jander (sem partido). Bom de voto, Jander não tem feito cerimônia em levantar a bandeira de Norma, que carrega a grife ferracista na bolsa e a defesa do presidente Jair Bolsonaro em seu portfólio. Vem ainda com uma votação surpreendente no pleito de 2018, quando levou a maioria dos votos maratimbas na disputa pela vaga na Câmara Federal. Não é pouca coisa.

Correndo por fora está o atual prefeito do município. Na verdade, chefiando o Executivo Municipal, Tininho deveria estar correndo por dentro. Mas, as agruras com a Justiça e a pandemia têm feito sua candidatura patinar. Nas sondagens preliminares que os candidatos guardam na gaveta, Tininho aparece mal na fita. Sua aposta é de que Marataízes costuma dar uma segunda chance aos seus mandatários. Pelo menos foi assim com Ananias e Jander. E quase foi com Toninho. Resta saber se esse voto de confiança já não lhe foi dado em 2016, após ocupar quase todo o mandato de Jander. Volto ao tema.

Está aberta a temporada de apostas. Façam as suas.


terça-feira, 21 de julho de 2020

Depressão e a demagogia do vírus

Tenho relutado em escrever, falta-me estímulo. Com o isolamento, veio uma espécie de depressão pós Covid.  Andei pensando em discorrer sobre como este vírus está afetando a cabeça das pessoas, mas já tem muita gente falando disso. São três os casos de suicídio de pessoas que conhecia ou que eram próximas. Dívidas, tédio, falta de perspectiva, sensação de abandono, de impotência, enfim. O último era jovem, aparentemente sem motivo para ceifar a própria vida. Esta faceta, para mim, é a mais terrível desta doença, sem querer diminuir o impacto das mortes nos hospitais para as famílias das vítimas.

Por outro lado, temos algumas lições a tirar. Em minha opinião, o Brasil sai mais consciente e politizado dessa pandemia, consequentemente, mais exigente com seus políticos. Nunca antes na história do país, com a vênia do Lula, tantas pessoas debateram, divergiram, mostraram suas opiniões e discutiram tão abertamente as entranhas da política e do judiciário nacional. O mesmo deve acontecer daqui a pouco com a política local. Creio que em setembro as redes sociais vão esmiuçar as candidaturas a prefeito e vereador. Bom pra democracia.

Outro ponto que ficou mais claro na cabeça dos cidadãos foi o papel da imprensa na formação da opinião pública. Ficou claro até para os mais leigos que não existe imprensa imparcial em âmbito nacional, tampouco regional. Aquela que não está recebendo dinheiro do governo fala mal e as que estão falam bem, mesmo que de vez em quando deem uma espetada para dissimular sua verve situacionista. Isso ocorre também na esfera local. Há quem diga que não é bem assim. Pura demagogia.

Nossa imprensa é livre sim, para falar o que quiser, mas, via de regra, defende seus próprios interesses, não os da população. Sempre foi desse jeito, só que, graças ao vírus ou à disposição do Presidente em secar os cofres da Rede Globo, suprimindo lhe as verbas publicitárias, as pessoas estão vendo, discutindo e analisando com mais percuciência as notícias e análises da mídia tradicional. Quando não estão convencidas, buscam os blogs e sites mais seletivos, que também têm interesses próprios, mesmo aqueles que usam o guarda-chuva da ciência ou de uma suposta independência intelectual. Resultado: um caldeirão de informação onde o João pode tirar sua própria conclusão.

Aquela máxima do dramaturgo Bertold Breth - “o maior ignorante é o analfabeto político (...) não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, (...) e do remédio dependem das decisões políticas” - nunca esteve tão presente em nossas vidas, graças a Deus. Com a internet e o isolamento social trabalhando juntos, percebo uma transformação formidável advinda do cerne da sociedade, do âmago dos Joões e das Marias. Acenderam o escurinho do cinema, acabaram-se os segredinhos, bem como as atitudes nada republicanas das autoridades, como a do desembargador que enquadrou um guarda municipal em São Paulo. E pensar que geralmente são os guardas que são flagrados pelas lentes mundanas. Ninguém escapa.   

Para finalizar, por teimosia, deixo outra reflexão, também de Bretch: “Do rio que tudo arrasta diz-se que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que os comprimem”.  Até a próxima.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Todos os Vagabundos do Brasil


Nas duas últimas décadas, a correlação entre o aumento do tráfego de informações, via internet, e a expectativa da população por ganho de cidadania não anda nada bem. Penso que, na medida em que a sociedade passou a dialogar mais de forma endógena, via redes sociais, também passou a ter mais premência de resolução de seus direitos básicos, como o atendimento à saúde, à educação de qualidade, à celeridade da Justiça, à segurança e ao saneamento básico, entre outros.
A resposta do Estado pela via democrática a esses direitos não ocorre na velocidade esperada, fazendo com que a população culpe a classe política, especialmente os poderes Legislativo e Judiciário, que não têm acompanhado, apesar de todo o desenvolvimento tecnológico de nosso tempo, o atendimento às demandas civis, políticas e sociais da população, especialmente dos pobres. A título de exemplo, cito a morosidade que faz com que processos judiciais de interesse popular, ou que têm como requerentes as pessoas pobres, demorem décadas para serem solucionados, enquanto as ações que beneficiam pessoas ricas ou grandes corporações são julgadas de forma célere.
Por sua vez, vemos projetos de interesse popular, como o PL que moderniza a oferta de serviço de saneamento no país, tramitando há anos no Congresso, sem solução, deixando milhares de pessoas reféns do esgoto a céu aberto e da falta de água tratada. Entrementes, o principal direito político do cidadão, o voto, está encardido por uma prometida, mas nunca concretizada, reforma política, que há mais de uma década dormita no Congresso. Seu único avanço, a Cláusula de Barreira, que acabaria com a farra da criação de legendas partidárias - votada aprovada pelos congressistas - foi barrada pelo Judiciário, numa ação que os próprios ministros do STF hoje julgam equivocada.
Nossos direitos civis estão sendo aviltados quando a Lei funciona bem para os ricos e ignora os pobres; quando presos que já cumpriram suas penas continuam amargando o cárcere; quando pessoas que necessitam urgentemente de serem operadas num hospital têm que entrar numa fila de espera que pode custar suas vidas. Cidadãos aguardam uma eternidade no telefone para serem atendidos condignamente pela operadora de telefonia, que, por puro escárnio, não cumpre o que está determinado na lei, que é ter como primeira opção falar com a atendente. Não há regulação nesse sistema capitalista brasileiro. As agências reguladoras estão vendidas às corporações e operando ao sabor da classe política.
Enquanto isso, a elite está discutindo o paradeiro da mulher do Queiroz. Digo elite porque o pobre tá cagando e andando para isso. Ele quer é que a operadora de celular pare de aumentar suas contas sem que sejam consultados, que suas demandas judiciais sejam atendidas (sem virar precatório), que seu filho tenha um bom ensino, que os preços baixem, e que as reformas que possam melhorar suas vidas sejam votadas, com ou sem Bolssonaro.
Essa lentidão de resolver as coisas, fato comum no processo democrático, confronta-se com um mundo que evolui de forma acelerada, que consegue criar novas vacinas em apenas um ano, e que recebe na palma da mão um cabedal incrível de informações por minuto. Esta situação estabeleceu um paradigma que precisa ser estudado e compreendido. É necessário entender a real função dos Poderes Democráticos constituídos, na modernidade, para podermos compreender melhor o que essa nova geração espera deles. Daí a aversão ao Legislativo a ao Judiciário, constatadas pelas manifestações de rua, sendo transfiguradas pelas agressões de alguns imbecis à própria democracia.
Torna-se importante a vigilância sobre a tentativa dos juízes e políticos de censurar o único espaço que nos resta para desabafar, as redes sociais. Existe fake news sim, e vamos ter que conviver com elas. Chamar ministro do supremo de vagabundo é um direito meu, assim como chamar o presidente de energúmeno e nazista. Por que podemos dizer “Fora Bolssonaro”, “Fora Lula”, “Fora Dilma”, e não podemos gritar “Fora Ministros do Supremo”, seus vagabundos. Ir contra a democracia seria se eu fizesse algo de fato contra a democracia, concreto, que não seja apenas retórica. Então, vamos dar um viva aos vagabundos do Brasil. Vivaaaa! Eu heim!

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Eu, Paulo Henrique e a peste


Pensei muito antes de escrever este artigo, o mais certo era de que não o faria, mas a morte do jovem Paulo Henrique Feu de Azevedo, 30 anos, na madrugada de segunda-feira, 1º de junho, mudou muita coisa em mim. Paulo deixa duas filhas órfãs e uma grande interrogação na forma como estamos enfrentando esta peste que vem causando estragos em famílias, municípios, estados e nos governos mundo afora, a Covid 19.
A notícia da sua morte deu-me arrepios, enjoo, uma sensação mórbida. Fizemos o mesmo périplo pelas UPAs de Cachoeiro, e no mesmo período. É bem provável que tenhamos nos cruzado nas recepções ou nas enfermarias da Marbrasa ou do Paulo Pereira, procurando pela mesma coisa: alívio para nossas dores e respostas a nossas mazelas.
Ambos tivemos noites de insônia, de muita preocupação com os filhos, com a família, com o que vem depois. Ambos tivemos aquele pressentimento de que a morte estava nos espreitando, nos empurrando devagar ao precipício. Nessa hora, não se chora, não se sabe o que fazer, somos pó, só isso, um grãozinho de nada clamando a Deus pela vida. Nesse momento, a espiritualidade nos reprime e conforta, castiga e perdoa, por fim, responde-nos com perguntas sem respostas.
Tanto o resultado do Paulo Henrique quanto o meu deram negativo para o Covid19. Todavia, não nos disseram do que padecíamos. De fato, ele morreu, eu sobrevivi. Paulo foi enterrado em caixão lacrado, sem velório. Deixou a família em pedaços, querendo aquelas respostas que não existem. Ele partiu, eu não... Em algum momento, nossos destinos mudaram de rota.
Meu problema começou com uma dor na vesícula, velha conhecida. Dessa vez, veio mais forte, insuportável. Desesperado, como se agulhas perfurassem minhas entranhas, fui seis vezes à UPA da Marbrasa em busca de sedativos, num espaço de apenas quatro dias. Não tenho do que reclamar do atendimento, dos médicos, ou mesmo das enfermeiras. Todos fizeram a sua parte num sistema repleto de erros de origem.
Quando as pedras da vesícula deram sinal de que me poupariam, outros sintomas começaram. Febre, dor de cabeça, coriza, e a sensação de estar sendo atacado por dentro. Telefonei para o médico, que me receitou antibiótico contra pneumonia. Dois, três, quatro dias, e nada. Liguei novamente e expliquei o que se passava.
Ele me receitou hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e um composto à base de zinco para reforçar a imunidade. Obedeci, só não consegui a hidroxicloroquina, que estava em falta. Havia uma guerra política contra essa medicação. O médico a substituiu por um remédio de nome Annita, à base de nitazohanida. Dois dias de suador, daqueles de encharcar o lençol. Adeus febre, dores e sensações da peste.
Nesse meio tempo, fui à UPA do Baiminas fazer o exame que chamam de “Suave”, para detectar a Covid19. Enfiaram um canudinho no meu nariz e rasparam minha garganta, lá onde faz vômito. Prazo estimado para o resultado: 15 dias. Ciclo do vírus, 14 dias. Bom, pensei cá com os meus botões em procurar algum médium e já deixar negociado o repasse do resultado ao além, em caso de infortúnio.
Não precisou. Dois dias depois a Prefeitura mandou uma equipe a minha casa para fazer o tal teste rápido, o mesmo que fizeram no Paulo Henrique e que deu negativo. Em mim também, mas recomendaram manter o confinamento até sair o resultado do “Suave”. Três dias depois ligaram para me dar a boa notícia: eu não tinha a peste. Então, era o quê? E o Paulo Henrique?
As perguntas acima ficarão como aquelas que fizemos na hora do sufoco, de olhos fechados, buscando o infinito, e respondidas com outras perguntas sem respostas. No fundo, acho que te conhecia, Paulo. O sorriso que exibe na foto do site e a sua aparência me parecem bastante familiar. Tenho rogado todos os dias por sua alma, por suas filhas e sua família. Fica com Deus, amigo.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

A Colônia da Deusa


Texto escrito por mim em janeiro de 2016, numa homenagem à Marataízes, praia de tantos encantos e tantos amores. Para relembrar da nossa pérola nesses dias de pandemia. Aproveito também para prestar homenagem a minha saudosa mãe, Sonia Coelho.

Neste último fim de semana, a água do mar em Marataízes estava divina. Quem esteve por lá pôde conferir todo o esplendor e magia de uma cidade viva. Digo isso porque Marataízes tem algumas peculiaridades. Por exemplo, lá o mar nunca suja, a água é que, por pura travessura, vez por outra resolve mudar de cor. E o faz ao sabor do vento. Se sopra nordeste, o mar se adorna de dourado (marrom é o cacete!); se venta sul, as águas se travestem de verde para receber a chuva.
Muitos não acreditam, mas Marataízes tem alma. Essa característica do balneário influencia turistas, nativos e mesmo as autoridades do município. Agora mesmo, parte da Praia da Colônia foi desobstruída. E ainda vão demolir as demais casas daquela orla depois do verão. Há quem diga que é ordem judicial, que foi a Marinha, que foi a prefeitura. Tudo bobagem. Foi Netuno quem provocou isso, em conluio com Ísis, deusa egípcia do amor e alma gêmea de Marataízes.
Há anos, Netuno vinha mandando sinais de que não está nem um pouco satisfeito com a perda de território nas praias da amada, especialmente a Colônia. Ensaiou até derrubar as casas com a força de seu poderoso exército, que faz mexer as águas, subir as ondas e invadir a praia. Aliás, o deus romano do mar vem mandando esse recado há muito tempo, e não só na Colônia. Na Lagoa Funda e Nova Marataízes sua fúria já pôde ser percebida.
Contudo, Marataízes é sentimental. Prevendo que a retomada da Colônia seria um golpe duro, ofereceu duas pérolas aos seus vassalos: a Catedral do Samba e o Geredy´s. A primeira trouxe música de qualidade, dos anos 1930 aos 1970, nas vozes arrastadas de uma velha guarda que não dorme no ponto nem sobe no pinto. Naquelas nucas brancas e carecas, só de implicância, Netuno assopra um nordestão bem forte, que é pra contrapor ao fogo da cachaça que inebria na cabeça e excita nas carnes.
Bem pertinho dali, no Geredy´s Bar, uma profusão de gerações interage freneticamente ao som do rock and roll dos anos 70, 80 e 90 - junto e misturado às novas tendências. No Gera, pode-se ouvir o hino do balneário cantado pelo próprio autor, o Baíco. Em seu palco, com a permissão dos deuses, também passa toda uma nova geração de músicos que faz perpetuar essa vocação de Marataízes em produzir talentos. Só para não esquecer, na Catedral também se pode ouvir o hino de Cachoeiro, cantado pelo mestre Raul Sampaio.
Essas duas pérolas vão ficar pra sempre na nossa memória. Assim como ficaram o Chalé 70, Vip Vip, 630, Mar Azul, Xodó, Iate Clube, ToaToa, Veleiros e tantos outros points que receberam a dádiva de marcar pedaços de tempo. Mesmo aqueles que não a conheceram, no futuro, quando passarem pela Praia da Colônia, sentirão aquela sensação dèjá vu. É como se a alma de Marataízes estivesse ali, perpetuando as alegrias, sorrisos, tristezas e todas as demais sensações que nos fazem aproximar dos deuses. Salve Marataízes!

segunda-feira, 11 de maio de 2020

O Tabuleiro Político de Kennedy



Com quatro pré-candidaturas postas, a disputa eleitoral pela Prefeitura de Presidente Kennedy este ano deve quebrar um tabu que já virou tradição no município: a reeleição do atual mandatário. Nos últimos 20 anos, foi assim com Aluízio Correa (PL), Reginaldo (DEM) e Amanda Quinta, considerando que Amanda foi alçada ao cargo pelos votos de Reginaldo, que teve a candidatura abortada pela justiça às vésperas do pleito. Tanto que, nas urnas, era a foto dele que constava para o eleitor.
Dorley Fontão da Cruz (PSD), vice de Amanda, como ainda não foi diplomado, disputará pela primeira vez o cargo. Se vitorioso, terá a chance de se candidatar novamente em 2026. O mesmo acontece com Tininho, em Marataízes, vice do Doutor Jander, que ficou mais de dois anos no cargo por determinação judicial, sem ser diplomado prefeito, e deve tentar a reeleição este ano.
Outro fato que chama a atenção é que, em conversa com os candidatos ou pessoas próximas deles, percebi que não há um clima beligerante, marca registrada da política kennedense. De certa forma, estão todos com muito cuidado, pisando em ovos, acreditando que alguém ainda pode desistir. As eleições municipais em Kennedy sempre foram polarizadas em duas candidaturas ferrenhamente opostas. Com quatro no páreo, penso que pode ainda haver um esbarrão ou encontrão entre um ou outro candidato.
A seu favor, Dorley tem o fato de ter “colocado o trem nos trilhos” após o afastamento de Amanda. Muitos não acreditavam que se sustentaria no cargo, acho que nem ele mesmo, tamanha a turbulência na cidade. Dessa forma, conseguiu evitar uma intervenção estadual. Se perguntarem a qualquer kennedense, a resposta será de que a intervenção foi muito ruim para o município. Por outro lado, Dorley está dando continuidade a importantes obras de infraestrutura iniciadas pela prefeita afastada, como a nova rodovia do Caju, o novo acesso e a escola de Marobá, calçamentos, etc. Pretende, ainda nessa gestão, licitar o saneamento básico do município. Com o cabresto da prefeitura na mão, seu cavalo entra forte na raia eleitoral.
No caso de Aluízio Correa, a expectativa é se terá o vereador Daniel Gomes (PTS) como vice. Com 2.874 votos para deputado no último pleito, Daniel pode, digamos assim, turbinar a candidatura do ex-prefeito.  O portfólio de Aluízio é extenso, deixou obras por toda cidade e interior nos oito anos que esteve à frente do Executivo Municipal, sem se envolver em imbróglios judiciais.  Deixou a prefeitura com a popularidade em alta, elegendo seu sucessor. O ex-prefeito tem ainda na cartola os apoios do PTS e do PEN, que, juntamente com o PL, garantem 42 candidatos a vereador trabalhando seu nome nas ruas e recônditos do município. Acredita que o cavalo está arriado e já calça as esporas.
Correndo por fora, mas com bastante intensidade, vem Rubens Moreira (PDT). Ao colunista, ele afirmou: “em Kennedy temos muita escolaridade e pouca empregabilidade, precisamos mudar isso”. Ele terá como bandeira, além da renovação política, a atração de empresas para o município. O presidente do Sicoob é novato em disputa eleitoral, mas de bobo não tem nada. Já presidiu a Cooperativa Selita por quatro vezes e ajudou a criar o Fundesul . Tem ainda na retaguarda dois grandes trunfos: o bom trânsito junto ao empresariado (é conselheiro do Movimento Empresarial do Sul do Estado - Meses) e o espólio político de Amanda Quinta, com quem mantém bom relacionamento. Se as lágrimas que rolaram no rosto dos kennedenses,  quando afastaram a prefeita, se multiplicarem em votos, Rubens ganha ainda mais estatura. Está colocando a ferradura no cavalo.
 Deixei Reginaldo por último por dois motivos. Primeiro, porque paira uma dúvida sobre sua situação junto à Justiça Eleitoral; e segundo, porque não consegui ouvi-lo. Suponho que o que move Reginaldo nesse momento é a vontade de dar a volta por cima, de recuperar um mandato quer lhe foi tirado de forma abrupta, em processos que não tiveram fim. O ex-prefeito se tornou uma espécie de “Sassá Mutema” da política kennedense, um Robin Wood. Mesmo longe do poder há bastante tempo, mantém a admiração e o carinho de grande parte da população. Com ele na disputa, tudo pode acontecer. Mantém o cavalo na baia, muito bem tratado. Volto ao assunto.

domingo, 3 de maio de 2020

O tempo e o vento, uma ópera bufa

Compromisso de escrever é assim, tem que cumprir, senão o editor puxa a orelha. Esperto é o Higner Mansur, que agora é verde igual às folhas das mangueiras da Ilha da Luz. Quando se aperta, mete um escrito antigo, uma carta de outrora, um reclame incessante, dá uma repaginada, e resolve o problema. Procurei em meus alfarrábios e só vi os rábios, nada de alfa.
 Tinha pautas boas em vista. Presidente Kennedy, Marataízes, Piúma não, que é coisa da Luciana, o máximo. Ia escrever sobre o Garrafão, mas também não posso. É latifúndio que tem dono. Pensei em falar mal do Evair de Melo, mas o deputado tá bem na fita em Brasília, tá em casa, no Partido Progressista (PP), junto aos ruralistas. Seja lá que fita seja essa.
Civid 19 e essa aporrinhação de esquerda contra direita é para politiputas (neologismo meu). Falar mal do Bozo é cair no lugar comum. Do Lula, nem se fala mais. Ciro é um escroque nordestino, com todo respeito à rapadura. Já perdi meu tempo em palestra dele e o entrevistei. É samba de uma nota só e oportunista de carteirinha. Não é a toa que no segundo turno da última eleição ele botou a viola no saco de foi pra Pasárgada, acreditando ser o herdeiro do rei persa*.
Do Vítor Coelho, o prefeito boa pinta, não falo, senão apanho em casa. E nesse isolamento residencial a última coisa que quero é brigar com a patroa. Não teria pra onde correr. A não ser que saísse por aí de máscara feito Durango Kid. Tá todo mundo igual ao Durango Kid na rua. Até os ladrões. Junto e misturado. Se alguém anunciar um assalto, tenho pena dos seguranças. Vão ficar igual à biruta de aeroporto, mirando em todo mundo.
Falar mal do Big House é perigoso, ele pode estar com a razão e ainda cortar o bônus de julho dos professores. O de dezembro já cortou. Imagino que nessa altura do campeonato a tesoura esteja trepidando em sua mão direita. Minha esperança é de que a esquerda seja mais destra. Deu pra entender? Esquerda mais destra... Sei não. Deixa o Casão em paz, curtindo sua cruzada contra o corona, os comerciantes, o presidente e o que mais vier.
Pra fechar, que o texto vai ser curto mesmo, vou refletir sobre uma entrevista que vi na CNN Brasil. Verdade, já temos CNN, a maior do mundo. Trouxeram pra cá só pra fazer raiva no Trump. Algum americano tem que falar mal dele nesse país. Mas um sujeito, presidente da “Prosperity American”, ONG de direita (lá tudo é direita, porque americano nasce só com um braço), me deixou intrigado.
Ele projetou os EUA pós-pandemia. Disse que após o 1º de Setembro, “Dia do Trabalho” por lá, quando as coisas estiverem mais calmas, pertinho das eleições, os americanos vão aprender os mistérios do fogo pra te incendiar. Essa música... Bem, prognosticou que só então a ficha vai cair. As pessoas vão perceber o que foi ou não foi feito, os resultados, o fruto do medo vai aparecer. Então, um vento vai bater dentro deles (os americanos).
Por analogia, acredito que vai acontecer o mesmo por aqui. Depois de tudo, vamos ver quem tinha razão. Bozo terá dois anos pra aprender os mistérios do fogo. Os prefeitos, esses não. Estão no fio da navalha. Podem pagar pelo excesso de zelo ou pela falta dele. Torço para que esteja vivo para ver no que vai dar. Por precaução, mesmo durango, no osso, uso a máscara. Na melhor das hipóteses, os cobradores não vão me reconhecer na rua. Tem um vento batendo dentro de mim. Vou ao banheiro.



*Ciro II: Rei da Pérsia Arquemênida. Era costume persa manter várias capitais em simultâneo, em função da vastidão do império: Persépolis, Ecbátana, Susa ou Sardes. PQP, tá doido?







A Borboleta e a Flor



 Abro espaço hoje no blog para uma ex-aluna, que me enviou essa singela crônica, quase fábula.

por Cíntia Souza

Certo dia, percorrendo pelo jardim de minha casa, em uma arbusto, observei uma borboleta parada defronte a uma bela flor. Essa, por sinal, possuía um aroma especial e inigualável. Pude observar que, enquanto a borboleta voava sob a flor, a mesma soltava uma espécie de pó que preenchia o ar de perfume.
Persisti em observar aquele elã sublime e me dei conta de quão lindo seria se aproveitássemos a beleza das coisas, das pessoas, e desistíssemos de procurar razões que não exprimam a verdade daquilo que realmente queremos.
Em minha reflexão repentina, pude sentir o quanto aquela borboleta admirava a bela flor, o tanto que era apaixonada, e como se contentou em apenas senti-la, de forma que ficavam mais próximas a cada momento pelo embalo das pétalas à brisa e pelo perfume no ar.
Contudo, também pude observar que a bela flor também se beneficiara das cores magníficas da borboleta, do misto de amor que ela emanava enquanto a sobrevoava.
A borboleta, por sua vez, agradecida pelo carinho da flor, ofertou-lhe aquilo que viria, em breve, fazê-la tornar-se sua amiga inseparável: um belo ovinho, depositado em sua folha.
Peguei-me a pensar que, mesmo que estejamos encantados sobre algum assunto, objeto ou pessoa, nada mais é do que para garantir uma estabilidade ou ganho pessoal. Ainda bem que, ao final, ambos saíram satisfeitos.

domingo, 26 de abril de 2020

PV afia o cutelo


Enquanto Sérgio Moro ganha os noticiários nacionais, longe dos holofotes palacianos de Brasília, as agremiações partidárias vão amolando suas adagas e cutelos com vistas às eleições municipais. No sul do Estado, em especial Cachoeiro de Itapemirim, o Partido Verde (PV) está um passo à frente, pelo menos no que diz respeito ao fortalecimento da legenda para as eleições de vereador.
É sempre bom lembrar que acabaram as coligações proporcionais. Dessa forma, os lobos solitários deverão buscar um ninho para se abrigar, ou estarão em extinção nos gabinetes das Câmaras Municipais. Por isso, nas últimas semanas, foi um corre-corre em busca de um lugar pra chamar de seu, por parte dos pré-candidatos. Mas, por que digo que os verdes saíram na frente?
A bancada do PV cachoeirense cresceu de dois para cinco vereadores na última janela eleitoral. A Edison Valentim Fassarela e Ely Escarpini, juntaram-se Brás Zagoto, Higner Mansur e Alexandre Bastos. Somam com eles outros nomes que bateram na trave nas últimas eleições, ou seja, candidatos bons de voto, e outros ainda, que, apesar de não conhecidos das urnas, são populares e respeitados em seus respectivos nichos eleitorais. Resumo da ópera: deve fazer três representantes, correndo o risco de eleger um quarto, com as sobras dos votos de legenda.
Caso algum desses seja aproveitado pelo próximo prefeito, num possível acordo de gestão, cinco ou seis candidatos do PV estarão participando diretamente da administração municipal, seja na legislatura ou no alto escalão do Executivo. Não é pouco, para um partido que não tem cacique, tampouco está pensando em disputar a majoritária, ainda.
Esse crescimento não é novidade. Desde que assumiu o comando do PV em Cachoeiro, seu presidente, Waldir Fraga, tem esmerado em manter um bom diálogo com as mais diversas correntes políticas da cidade, evitando criar áreas de aresta e transmitindo segurança para seus pré-candidatos. Dessa forma, o PV, nas últimas três gestões, fez um vice-prefeito (Abel Santana), nunca teve menos do que dois representantes na Câmara, sendo que ocupou por três vezes a presidência da Casa. Se fosse mulher, seria uma noiva cobiçada.
Nos demais municípios da região, o partido mantém duas prefeituras: Brejetuba (João do Carmo Dias) e Iúna (Coronel Weliton), e se organiza bem em Marataízes, com o empresário Durval Cortes; em Jerônimo Monteiro, com o dentista José Geraldo Ferreira Júnior, que garante ter propostas inovadoras para a cidade; em Castelo, com os vereadores Antônio Celso Callegário Filho e Paulo Casagrande; além de Kennedy e Mimoso do Sul.
A previsão de hoje tá dando tempo verde no sul do Estado.

Por Basílio Machado

terça-feira, 21 de abril de 2020

O silêncio sísmico de Jerônimo


Os mais bairristas costumam dizer que Cachoeiro de Itapemirim e Alegre fazem parte da “Grande” Jerônimo Monteiro, município de larga tradição política, fundado em 1958, que leva o nome de um dos maiores governadores que o Estado já teve. Lá também é terra de José Carlos Carvalho, ex-ministro e figura respeitada internacionalmente nas questões ambientais.
Ainda no campo político, Jerônimo Monteiro tem particularidades que o difere dos municípios vizinhos. Lá, por exemplo, nunca se reelegeu um prefeito. Por isso, alguns preferem nem tentar a reeleição, como foi o caso de Sebastião Fosse (Batok), no último pleito. Mesmo com um arsenal invejável de realizações, ante ao desgaste do processo eleitoral, preferiu desfrutar do merecido ócio ao sabor das laranjas folha-murcha e do bate-papo matreiro com os amigos. Laranjas, aliás, que são as melhores do Brasil.
No momento, um silêncio sísmico vibra sob a cidade. Articulações têm ocorrido nos bastidores na busca por um nome capaz de manter a tradição e destronar Sérgio Fonseca (PSD), o atual prefeito. Tarefa difícil. Fonseca concluiu as obras de Batok e ainda avançou em alguns setores. Essa semana, por exemplo, coloca à disposição da população um ônibus gratuito, com ar-condicionado. Assim, vai refrescando a própria pré-candidatura. Tem a seu favor, ainda, a retomada com mais vigor das festas da cidade, que ajudam a movimentar a economia local e agradam o eleitor. É o tipo populista, às vezes frequenta botequim e sempre que pode aperta a mão do povo, não importando se cristão ou gentio.
Os inconfidentes de Jerônimo se organizam em torno de três nomes: Bodinho (Edson Fosse Filho), pelo PRB, o ex-juiz Ilton Louvem (PDT) e o vereador Mitter Volpasso (PP). A ex-secretária municipal de Educação, Maria Luíza de Oliveira Liparizi (PRTB), candidata nas últimas eleições, faz dobradinha com Bodinho, ou seja, também está no grupão.
O PDT, além de Ilton, vem fortalecido pelo atual vice-prefeito, Ari Porto (que rompeu com Fonseca), e por Renato Lima, aposentado de prestígio na cidade. O problema maior do grupão será ajustar a chapa e contornar as vaidades. Mitter, por exemplo, quer a cabeça de chapa, mas não tem densidade eleitoral para tanto. Luíza e Renato seriam bons vices. O problema é que vice só pode ter um. E cabeça de chapa também. Se conseguirem se acertar, vão dar trabalho.
Cogita-se ainda, fora desse grupão, o nome do ex-diretor do Saae, José Geraldo Ferreira Júnior, recentemente filiado ao PV. Assim como o próprio nome do partido, ainda é uma candidatura verde, que precisa ganhar musculatura eleitoral e correr muito atrás do tempo perdido. É uma incógnita.
Tudo bem, mas aí o gaiato pode me perguntar o seguinte: e o grupo do PSB? Bom, o partido do governador Renato Casagrande, que abriga Maria Aparecida Giri Dias (foi vice de Batok), o vereador Genaldo Resende Ribeiro e Jorge Portela, entre outros, bem lá no escondidinho do cinema, a aposta é de que fica com Fonseca. Genaldo pode compor a chapa, como vice. É um apoio de peso para o prefeito, se confirmado. Voltaremos ao tema.

Por Basílio Machado